Livro das derrapadas no marketing
Na sexta feira 8 de fevereiro, logo após o Carnaval, eis que, de repente, milhares, talvez milhões, de emails enviados por qualquer pessoa a um endereço do yahoo.com.br simplesmente não chegavam ao destino.
O que estaria acontecendo? questionaram-se os usuários aos seus provedores ou aos seus gurus informáticos de plantão. Em nosso caso eram as confirmações de compras em nossa livraria, feitas por clientes com endereços yahoo, que não chegavam a estes e os clientes, com justa razão, reclamavam, atribuindo a nós a falha. Sim, porque em compras pela Internet a desconfiança ainda existe e sempre que acontece algo errado a tendência do consumidor é imaginar que foi passado para trás pelo lojista…
Imediatamente entramos em contato com nossos provedores e descobrimos que eram os “filtros” do Yahoo que tinham sido “incrementados”, a pretexto de “anti-spam” e, totalmente descontrolados, estavam “filtrando” tudo ou quase tudo. Ou seja, estavam deixando de entregar a maioria das mensagens aos destinatários, sem sequer informar os remetentes que, ingenuamente, achavam então que estava tudo OK com as mensagens que haviam enviado aos yahoos. Durante toda a sexta, sábado e domingo o problema persistiu, diminuindo gradualmente de intensidade até a segunda feira, quando se tornou mais esporádico e depois, aparentemente, voltou à normalidade, se é que pode haver normalidade onde há censores.
E por que os chamo de censores? Porque não fazem o óbvio, realmente necessário, que é criar mecanismos para evitar que vírus e programinhas maliciosos cheguem aos usuários, simulando mensagens de pseudo colegas de escola, de pseudo ninfetas solitárias em busca de companhia e, pior que isto, de bancos, do Serasa, da Receita Federal e até do Ministério Público, com a intenção real de violar os computadores dos usuários e assim descobrir senhas e roubar dinheiro.
Em vez de focar nesses bandidos, que são o verdadeiro problema, os nerds que habitam os grandes provedores como yahoo, terra, uol, bol, ig, oi e tutti quanti, dedicam-se a perseguir o que chamam de “spam” e que inclui tudo que, longinquamente, cheire a esta “coisa horrível” que se chama propaganda.
E será que com todos os “filtros” que inventam, bloqueando palavras-chave “suspeitas”, eles conseguem barrar as mensagens dos prolongadores de pênis ou dos enrijecedores dos mesmos, tipo Viagra e cia? A resposta é não, porque estes comerciantes, que são insistentes e chatos, sem dúvida, mas que querem apenas vender o seu produto, são mais espertos que eles e contratam “nerds” especializados em pular a cerca dessas barreiras, enviando emails sempre de origens diferentes e com os mais variados disfarces.
Quem são então os “spammers” que os nossos nerds caboclos conseguem “pegar” com suas redes? Justamente aquelas honestas lojas virtuais, que vendem produtos éticos, como livros, CDs, brinquedos, que não escondem o seu I.P. de origem, assinam as mensagens com seus nomes verdadeiros, informam seu endereço físico e só vendem com nota fiscal.
Na ânsia de mostrarem-se cada vez mais “eficientes” no combate ao “spam”, os nerds a serviço dos grandes provedores inventam cada vez mais “filtros”. Entre as palavras-chave que eu já percebi serem motivo de bloqueio estão as inocentes “lançamento”, “curso”, “novo”, e até a palavra “remover” que se está lá como opção para o destinatário é porque certamente o remetente é um “spammer”, deduzem esses detetives frustrados que desconfiam de todo mundo, menos deles mesmos. Sim, pois é no poder excessivo (e ilegítimo) que lhes dão os provedores que reside o verdadeiro problema, como demonstra o case Yahoo. De tão estreitas que fizeram as malhas da sua rede anti-spam, nenhum peixe conseguiu mais passar por elas. E o tráfego ficou totalmente bloqueado em seus servidores.
Quando será que esses provedores irão conscientizar-se da ilegalidade dos “filtros” que inventam, sem autorização dos destinatários? O email é uma correspondência, uma carta, apenas que eletrônica. E o sigilo da correspondência é cláusula pétrea da nossa Constituição como daquela de todos os países do mundo que não sejam ditaduras, mesmo que disfarçadas. A ninguém é dado o direito de espionar o que eles contêm, salvo se houver indício de ilegalidade, como nas tentativas de apropriação indébita de senhas, e ainda assim com autorização da polícia ou da Justiça. Portanto, esses nerds que agem com o beneplácito de seus patrões provedores, ao inventar e aplicar estes “filtros”, estão cometendo crimes contra a liberdade de expressão e comunicação. E seus patrões são cúmplices ou, pior ainda, mandantes desses crimes.
Que se deixe o destinatário decidir qual email ele abre ou não, como decide se lê ou não uma carta ou mala direta que recebe pelo correio, se assiste ou não a um comercial na TV ou se lê ou não o conteúdo de um anúncio em um jornal ou revista. Se o destinatário quiser aplicar ele mesmo os “filtros” rigorosos que existem nos programas de emails de seus computadores, que o faça, por sua conta e risco. Se perder mensagens importantes porque exagerou nos filtros, se perdeu um emprego ou um cliente porque a mensagem desejada foi parar no “lixo eletrônico”, a opção é sua. Cada um tem o direito de fazer o que quiser, inclusive bobagens. Quem não tem o direito de decidir o que é bom ou não, o que serve ou não para o destinatário do email é o seu provedor de Internet. Que este se aplique em fazer com que o seu serviço não saia do ar toda hora e que procure identificar e bloquear os emails com fraude, e apenas esses, comunicando antes as autoridades. E que deixe de lado a censura do conteúdo das mensagens pois isto é imoral, é ilegal e engorda, como diz o nosso Roberto Carlos.