Livro das derrapadas no marketing
Sábado dia 15/09 recebi um email do Correios NET Shopping com este texto: No dia 15 de setembro comemora-se o Dia do Cliente. Assim, esperamos fortalecer cada vez mais nossa parceria de sucesso. Aproveitamos esta oportunidade ímpar para colocá-lo efetivamente no lugar que você merece. E uma imagem mostra um pódio, com um indivíduo caricato na posição do primeiro lugar e com os lugares 2 e 3 vazios.
Se na quinta feira anterior, dia 13, não tivesse estourado uma greve nos correios, esta mensagem poderia até passar batido, apesar da sua banalidade e dos lugares-comuns do seu texto. Afinal eu sou um cliente (mas não um parceiro…) da loja virtual dos correios, por já ter passado alguns telegramas de pêsames por lá. E quem sabe até ficasse feliz por terem me colocado “no lugar que eu mereço” (?)… ainda que fosse apenas na oportunidade “ímpar” deste dia do cliente.
Mas enviar uma mensagem dessas num sábado em que todas as notícias davam conta de que a greve nos correios devia continuar na semana seguinte (como de fato continuou) é no mínimo de uma total falta de sensibilidade. O que um cliente pessoa física da ECT esperaria num dia como esses seria uma mensagem especificamente sobre a greve, informando sobre a situação, sobre os serviços que estão funcionando normalmente ou não, sobre o que acontece com os prazos de entrega nesta situação, com possíveis alternativas e recomendações.
Muito mais do que isso seria de esperar que a ECT fizesse para os clientes empresariais que dependem vitalmente dos serviços postais, como é o caso das lojas virtuais. O que elas devem fazer? Continuar a vender ou interromper tudo? Que prazo de entrega podem prometer para os clientes, nos vários serviços e para os vários destinos?
Entendo que se as agências postais continuam abertas a ECT tem a obrigação legal de realizar o serviço de acordo com os padrões prometidos. Se os seus funcionários, ou parte deles, está em greve, isto é problema dela, com o qual os clientes do correio (e os clientes dos clientes) não têm nada a ver. Para as empresas usuárias a greve dos correios não serve de desculpa, a não ser que explicitem que não dão garantia alguma quanto ao prazo de entrega… Mas qual cliente fará compras numa loja virtual com um aviso desses? E quem pagará o prejuízo pelas vendas perdidas?
Problemas acontecem também com empresas transportadoras privadas. Quando a TAM Express foi abalada pelo acidente aéreo que destruiu a sua sede, em julho último, seus serviços ficaram totalmente prejudicados. Mas os clientes tinham (com têm) outras transportadoras às quais recorrerem.
Infelizmente este não é o caso dos Correios. Como serviço estatal e monopolista, não existem alternativas para muitos dos serviços prestados pela ECT. A contrapartida para esta enorme reserva de mercado deveria ser a total proibição de greves nesta estatal, como de resto em todos os demais serviços públicos de primeira necessidade. Greve nesses serviços tinha que ser considerada como insubordinação e tratada como a dos controladores, pela Aeronáutica: demissão imediata, responsabilização criminal e prisão preventiva, seguida de processo, para os chefes do “motim”.
Se a ECT deseja ser considerada como uma empresa qualquer, onde greves possam ser admitidas, então que abdique formalmente do seu monopólio. Se todos os serviços postais forem abertos à concorrência das empresas privadas, os funcionários da ETC poderão brincar de greve à vontade, pois os clientes terão como viver (muito bem, espero) sem eles. Porém como sabemos que há fortes interesses em manter esta estatal monopolista, tanto por parte de seus quadros dirigentes (nem sempre pelos motivos mais éticos, com vimos recentemente) quanto por parte dos feudos sindicais lá incrustados… sabemos que não se pode esperar interesse sincero dessa gente toda pelos clientes que eles chamam de “parceiros”. A mensagem que enviaram a estes é só palavreado oco.
Existe solução para este pesadelo postal que se repete quase todos os anos, com greves sempre imprevisíveis e intermináveis? Existe solução para que os serviços postais atendam efetivamente à demanda do mercado e não aos interesses de um gigante estatal e daqueles que o comandam ou vivem às suas custas?
A meu ver só há uma saída que, infelizmente, é quase impossível de imaginar ser adotada num governo do PT: é a privatização dos serviços postais, como foi feito com a telefonia, quebrando este gigante em vários pedaços concorrentes, como foi feito com as operadoras de telefonia, e abrindo totalmente os serviços ao mercado.
A expectativa é que várias empresas privadas compitam neste mercado, tanto em oferta de serviços quanto em preços. E, desta forma, realmente coloquem o cliente “no lugar que ele merece”. Que certamente não deve ser o de bobo esperando que os diversos feudos postais se entendam uns com os outros para que os serviços sejam retomados.
Uma agência controladora de serviços postais teria que ser criada, com direção não-aparelhada e, de preferência, com predominância de representantes (honestos) dos usuários, grandes e pequenos. E que falta nos faz agora um Sérgio Motta postal!