Livro das derrapadas no marketing
20 de setembro último, toca a campainha de minha casa. Somos da Eletropaulo e viemos cortar a energia. “O que? Esperem um minuto que vou até aí.” Chego à porta e estão lá dois sujeitos da Eletropaulo, um deles já subindo na escada para cortar o fio. “Por que isso, o que está acontecendo?”, pergunto eu. Me informam que está em aberto a conta de luz vencida em 3 de julho e que por isso vão cortar. “Peraí”, respondi eu. “Não me consta que haja débito nenhum, não recebi cobrança nem aviso… Aguardem que vou verificar”. Vamos esperar 5 minutos, dizem.
Enquanto isso corro para meus arquivos, tentando achar registro desta conta. Acho duas pagas, posteriores, de 3 de agosto e 3 de setembro… mas a de 3 de julho não acho, nem paga, nem sem pagar. Esta conta simplesmente não está em meus papéis, o que significa que não a recebi. Bom, pensei eu, se não recebi, não percebi e, por isso, não paguei, eu pago agora e pronto… Mas como pagar sem ter a conta, sem aquele gigantesco código de barras? Quem sabe telefonando lá eles possam me informar…
Enquanto eu fazia esses rápidos raciocínios… eis que cortam a energia e nem o telefone funciona mais. Corro lá fora e os dois carrascos estão lá, sorridentes, pois cumpriram a sentença, sem dar prazo para apelação. Protesto: não recebi a conta e não fui avisado deste débito: eu poderia pagar de imediato se eles me informassem como… Este corte sem aviso prévio é uma violência inadmissível. Nada adianta: eles estão ali para “executar”, me entregam um “aviso de suspensão do fornecimento’ e vão embora.
De um celular ligamos para a Eletropaulo. Temos que pedir uma “religação” que, “de emergência”, custa R$ 29,96 e é feita “em até 4 horas”. Consigo o número das barras, corro ao banco para pagar, peço a religação e começo a esperar, sem energia, sem Internet, sem telefone.
4 horas depois ninguém aparece para religar. Reclamamos e informam então que, neste caso, não teremos que pagar a taxa de emergência, mas o prazo para religação “normal” é de 24 horas… Protesto pelo absurdo, recuso-me a falar com as atendentes, que só repetem frases feitas, mando chamar o chefe, depois o chefe do chefe. Depois de várias ligações consigo falar com um deles, que me diz que vai entrar em contato com a equipe e que virão rapidamente fazer a religação.
Passa mais uma hora e nada… De repente, toca o telefone e, milagre, é alguém da Eletropaulo, me dizendo que a equipe está na minha porta, mas que ninguém responde à campainha… Ora, como podia funcionar a campainha, se cortaram a energia?… Com o perdão pela piada “politicamente incorreta”, será que esta companhia foi comprada por portugueses e não por americanos?… Corro ao portão e… a brilhante equipe foi embora… pois não atendemos à campainha…
Ligo de novo para o chefete, explico o absurdo da situação, exijo que os fujões voltem e, finalmente, 8 horas depois do corte, eis que um novo “comando” chega e dá a luz! Enquanto eu estava no portão, acolhendo esta comitiva, chega um vizinho que, ao notar a presença da Eletropaulo, pede para religarem a sua energia também, que foi cortada pela mesma razão da minha: não recebimento de conta…
Gente, será que os “luminares” da Eletropaulo não têm um sistema capaz de perceber que, se vários vizinhos deixaram de pagar a conta de um determinado mês, é porque deve ter havido falha na entrega da mesma na região? Não passa pela cabeça deles que deveriam enviar correndo uma segunda via a todos que estão com contas em aberto? Ou pelo menos uma cartinha informando que existe o débito?
Será que não têm controle para verificar que um cliente que pagou pontualmente as contas por 30 anos não ia deixar de pagar propositalmente uma delas? Especialmente se pagou pontualmente as duas seguintes? Será mais fácil e produtivo mandar um comando tipo “Gestapo” cortar sem apelação a energia do cliente? Onde está o respeito pelo consumidor, se é que sabem o que é isso?
Quem é e quais são os acionistas dessa tal de AES que comprou a Eletropaulo e, aparentemente, deve ter comprado também a complacência da ANEEL? Sim, pois, da mesma forma que acontece com a ANATEL, SUSEP e outras “reguladoras”, jamais ouvi falar de reclamação de usuário que tivesse sido acolhida por esses organismos, que deviam controlar as privatizadas. “São meros cabides de emprego para políticos”, me explicou um leitor.
Pesquisei um bocado e só descobri o que já sabia: que AES é uma gigante de energia americana. Porém nem no site da AES Corporation explicam o que significam essas 3 letras atrás das quais se escondem… Imagino que deva ser American Electricity alguma coisa (supply, talvez…). Eletropaulo eu sabia o que era e o que podia esperar dela, a eletricidade do Paulo Maluf… Mas essa versão “EletroAdolf” ou “EletroSalazar” está abusando do direito de ter a concessão de um monopólio e não ser fiscalizada. Nem de marketing ela precisa, é claro. Pode derrapar à vontade, que nenhum concorrente virá ameaçá-la. Isso é que é empresa de vida fácil… Duvido que nos Estados Unidos ela ouse cometer essas violências. Cortavam-lhe as asinhas bem depressa. Um corte sem aviso prévio renderia uma bela indenização ao prejudicado…