Livro das derrapadas no marketing
Incapazes de implantar um metrô à altura da demanda de uma cidade como São Paulo, seus governantes implantaram, já há anos, um rodízio de veículos, proibindo-os de circular em determinados dias e horários. Incapazes de criar vias expressas e rodoanéis suficientes para os caminhões, proibiram sua circulação em certos dias, horas e locais. Incapazes de administrar a publicidade exterior nesta mesma cidade, proibiram todos os cartazes, outdoors e mesmo as placas nas fachadas das lojas. A incompetência dos governantes, como de costume, recai sobre os cidadãos “contribuintes” que pagam para circular e exercer suas atividades, mas ficam impedidos de fazê-lo devido a este permanente “festival” de proibições. Mais recentemente, a incapacidade de fiscalizar o trânsito e punir os motoristas bêbados, em todo o Brasil, fez com que proibissem todo mundo de beber até mesmo um copo de vinho. A fúria regulatória de federais, estaduais e municipais chega a tal ponto que, tentando trocar numa farmácia um medicamento para a dor que eu havia comprado para uma amiga que morreu de câncer e portanto não precisaria mais dele… descobri que existe uma determinação da Anvisa que proíbe as farmácias de aceitar a devolução e troca de remédios “controlados”, mesmo que fechados, nas embalagens originais. Esta merece o “Oscar” das derrapadas federais, pois além de burra é absolutamente injusta com os cidadãos que pagaram por um remédio, freqüentemente caro, e que, por felicidade (terem ficado curados) ou infelicidade (terem morrido) já não precisam mais dele. Afinal, o que impediria a farmácia de dar entrada do medicamento em seu estoque e o vender novamente a quem apresentar uma receita?
Mas o cúmulo de todos os cúmulos é a fúria legiferante, regulatória e policialesca em cima dos meios de comunicação. É proibido usar tal mídia, é proibido anunciar isso, é proibido promover aquilo, é proibido em certos horários… mas isso não basta. Os censores e fiscais de plantão, em todas as esferas, querem muito mais controle das mídias, como oportunamente se denunciou no recente Congresso de Publicidade.
Pois já não tentaram proibir as entrevistas de candidatos? Não querem censurar os noticiários na TV a pretexto de impedir que as crianças vejam violências? Preparem-se porque em breve vão querer proibir também notícias sobre corrupção e escândalos financeiros e quem sabe lá quais outros assuntos, como aliás já tentaram recentemente, com vários artifícios, sempre em nome de “proteger” os pobres cidadãos indefesos, é claro.
Tratados como imbecis, os cidadãos na verdade o são mesmo, porque pagam por uma porção de direitos, que os proibidores profissionais vão lhes extorquindo, um a um, inclusive o mais básico de todos, que é o seu livre arbítrio.
Enquanto nossas “ôtoridades” e nossos nada ilustres tribunos dedicam-se com afinco a inventar leis, decretos, regras para proibir as coisas mais normais e corriqueiras, a fim de encobrir sua incompetência em dar as soluções reais para os diferentes problemas, outros colegas seus (ou eles mesmos) fazem vista grossa ao cumprimento de leis que já existem. Como por exemplo a lei que protege a propriedade privada e que é desrespeitada todos os dias por “sem-terra” que invadem, ocupam, saqueiam e depredam fazendas, empresas e órgãos públicos e “sem-teto” que ocupam imóveis que não lhes pertencem.
Isto sem falar na ocupação de terrenos por favelas em todo país que, embora situadas em terrenos que têm donos (privados ou não) são aceitas como “normais”, em tese em nome de uma pseudo proteção aos “deserdados”, mas na verdade em função de incompetência em lhes providenciar moradia digna em outros locais onde os terrenos não sejam usurpados de terceiros.
E quanto às greves em serviços essenciais então? Por que não fazer cumprir, simplesmente, a obrigatoriedade de mantê-los funcionando normalmente? Querem proibir alguma coisa? Que proíbam então, totalmente, e penalizem severamente as greves em serviços públicos. Pois, afinal, como se pode tolerar que o correio, um monopólio estatal, fique em greve por três semanas e, no final, seus grevistas ainda recebam pelos dias parados e façam jus a privilégios que nenhuma empresa privada daria a seus funcionários? Os usuários vão pagar esta conta, podem estar certos.
Já imaginaram se as elétricas e as telefônicas não tivessem sido privatizadas pelo visionário e injustamente criticado FHC? Correríamos o risco de sindicalistas amiguinhos do poder cortarem a eletricidade, os telefones ou o combustível do país inteiro por semanas – e ainda saírem como heróis no final. Pena que o grande Sergio Motta não tenha tido tempo de completar a sua obra, privatizando também os correios!
Como seria tudo mais fácil se os governantes passassem o que não é de sua competência para a iniciativa privada e fizessem simplesmente o seu trabalho de mandar construir estradas, metrôs, hospitais, moradias populares, mantendo as instituições em funcionamento e respeitando as leis existentes em vez de ficarem sempre inventando novas leis e proibições. “É proibido proibir”, era um dos lemas rabiscados nas paredes de Paris quando eu lá estudava, em maio de 68.
Este lema, agora em novo contexto, bem que poderia ser pichado na porta de certos governantes nossos para fazer com que ponham finalmente os pés no chão e comecem a trabalhar em vez de bancarem os xerifes.
Eu, pelo menos, vou utilizar este critério para definir meu voto nas próximas eleições.