Livro das derrapadas no marketing

Atenção celebridades: cuidado com o boné que botam em suas cabeças!
Colunista: Antonio Silvio Lefèvre – Edição 30/10/2006

Minha última coluna sobre a Vivo que, aprisionando os clientes, acha que está  impedindo a sua debandada, me valeu uma enxurrada de emails de leitores relatando todo tipo de “vivacidades” de que foram vítimas: desde a recusa de cancelar, que eu mesmo contei, até créditos de pré-pago “comidos” sem poderem ser usados, passando por experiências traumáticas de péssimo atendimento pelo telefone e nas lojas.

Vim a descobrir que existe uma comunidade no Orkut chamada “Eu odeio a Vivo”, que já reúne mais de 18 mil participantes. Seus depoimentos são devastadores para as políticas, o marketing, os serviços, o atendimento e, mais do que tudo, para a credibilidade, a imagem desta empresa. Mas não vou cansar vocês com mais nenhum caso de esperteza ou mau atendimento da Vivo, pois isso já é notório.

Este assunto apenas me despertou para outro, que é o endosso que personalidades dão a empresas de imagem notoriamente ruim, e que procuram melhorá-la, não com mudança de conduta (como seria correto), mas apenas associando-a a personalidades com imagem boa.

Regina Duarte, por exemplo, aquela carinha ingênua e de boa fé que já foi chamada de “a namoradinha do Brasil” e que, há quatro anos, teve a honestidade e a coragem de sair na TV dizendo que “tinha medo” da candidatura Lula (de então)… lembram do episódio? Lutando pelo que (na época) nem todos perceberam ser uma boa causa, ela foi tripudiada por uns e outros mas… sobreviveu, com sua imagem extremamente positiva (até por ter-se revelado uma visionária), a ponto de estar hoje na novela da Globo encarnando uma médica devotada, que adota uma criança com Down.

Agora pensem numa empresa de imagem péssima, com uma enxurrada de problemas com consumidores, como a Vivo, e que deseje melhorar esta imagem à custa de uma personalidade com boa reputação. Quem poderia ser uma melhor garota propaganda para esta empresa do que a Regina Duarte? Pois é, a agência de propaganda encarregada dos comerciais da Vivo deve ter contado uma bela história para a Regina cair nesta armadilha, como uma patinha… arriscando-se a comprometer sua credibilidade pessoal ao endossar uma empresa que, em vez de mudar sua postura predatória e prepotente sobre os consumidores, já na mira de todas as entidades de defesa do consumidor, prefere escondê-la sob o doce sorriso de Regina.

Fui checar qual era essa agência e descobri que é a Young… do nosso badaladíssimo Justus… e logo fiquei me perguntando se o responsável por esta esperteza da agência passaria nos testes que o seu presidente aplica nos candidatos do seu “Aprendiz”…  ou se, ao contrário, ele levaria lá um daqueles “você está demitido” com que o Justus inaugurou o extravagante procedimento de demitir quem ainda nem contratou… (aliás, se o Justus fosse um RH na empresa e “demitisse” um candidato, seria ele o próximo demitido…).

Bom, mas a questão aqui é outra, pois o risco de se associar a más empresas, endossando más práticas com a boa imagem de terceiros, não é só da personalidade que endossa, mas também da agência e de seus donos. Ou será que alguém já se esqueceu dos efeitos devastadores do cliente PT para Duda Mendonça?  

Atenção personalidades com boa imagem no mercado: cuidado com as abordagens de empresas ou entidades em busca de seus testemunhos, oferecendo papéis em seus comerciais ou patrocinando suas peças de teatro, suas apresentações, seus sites, suas colunas na imprensa…

Antes de assinarem os contratos, chequem bem a reputação dessas empresas, a imagem que elas têm – e só aceitem depois de se certificar que estas são tão boas ou melhores do que as suas próprias imagens, como celebridades. Sim, porque o acordo tem que ser uma via de duas mãos: aquele que endossa não pode considerar apenas o cachê daquela iniciativa, pois se o endossado for errado, o prejuízo em imagem para o endossante pode ser bem maior.

Muita gente boa cai neste conto. Um observador muito arguto das malandragens alheias, o brilhante colunista da Veja, Diogo Mainardi, não teve esse cuidado ou não foi bem assessorado ao aceitar como patrocinadora da sua coluna justamente a Sul América, aquela seguradora que está dando a “tunga” no seguro de vida dos velhinhos, como denunciei em recente coluna, e que acaba de ser condenada na Justiça a cumprir os contratos de seguro que está desrespeitando.

Foram mais “espertos” os publicitários da agência (no caso, a nova MPM, pois a antiga, do Petrônio, não faria isso…) que deviam estar correndo como loucos atrás de algum “trouxa” de boa reputação que caísse no conto do vigário de vestir o boné da Sul América, justo agora que ela está nos holofotes da mídia por total desrespeito ao consumidor.

Diogo, você que descobre as espertezas dos petistas com tanta argúcia, foi cair justo nesta? Você não se tocou que a Sul América, para aprontar as suas, só pode ter contado com a conivência de gente da Susep, subordinada ao Pallocci? Como diria o Roberto Jefferson: cancele já este patrocínio, antes que “sobre” pra você. Você não merece esse boné, como a Regina também não o dela.

Em tempo: coincidência ou não, este patrocínio foi cancelado pouco após a publicação da minha coluna. Felizmente para a imagem do bravo Diogo.