Livro das derrapadas no marketing

Mulas sem cabeça
Colunista: Antonio Silvio Lefèvre – Edição 21/04/2008

Este  é o qualificativo que merecem muitos de nossos profissionais de marketing, publicitários e outros tantos prestadores de serviços para marketing. Sim, pois nos sites de suas empresas se pode encontrar sempre uma auto-elogiosa descrição dos serviços que elas prestam, recheada de termos técnicos em inglês e por vezes até listas de clientes e portfólios de trabalhos. Só não se acham ali os nomes das pessoas que assumem a responsabilidade pelo que é dito, ou seja, pelo que é oferecido.

Qualquer um de nós que esteja no ramo, mesmo há pouco tempo, sabe bem que, na promessa, todas as agências de propaganda, promoções ou de qualquer consultoria ou serviço de marketing são iguais, ou quase. A diferença, ou o “diferencial” (para ficar mais chique) é quem está por trás, ou seja, o talento, a experiência, a competência e, mais do que tudo, a seriedade dos seus donos e/ou dirigentes.

Quando um cliente indica um prestador de serviços a um colega de outra empresa ele não indica um prestador abstrato mas sim uma empresa em cujos donos confia. E o contato indicado é sempre uma pessoa, com nome e sobrenome, não um virtual funcionário qualquer da empresa x, y ou z, daqueles com email contato@qualquercoisa.

Mesmo tendo indicações, qualquer cliente potencial pesquisa alternativas e busca na internet um leque de opções sobre as quais depois possa pedir a opinião de colegas e amigos confiáveis. Mas imaginem a dificuldade que encontra esse cliente pois ao acessar os sites da maioria das prestadoras de serviços das diversas áreas, ele encontra tudo menos o nome (e o currículo!) desses donos e responsáveis. É como se aquela prestadora de serviços de marketing fosse uma entidade abstrata, que funciona além e acima das pessoas que a dirigem ou dela fazem parte.

É inacreditável que alguns desses profissionais que se posicionam como marqueteiros e grandes estrategistas em suas respectivas especialidades não percebam esta obviedade, ou seja, que o diferencial de suas empresas e do serviços que oferecem está neles mesmos, enquanto profissionais e principalmente enquanto pessoas.

De minha parte, toda vez que estou ou me coloco na situação de “cliente”, a primeira informação que busco é o “who is who”. De nada adiantam as maravilhas descritas num site se eu descobrir (por outros caminhos) que, atrás de todo aquele blá, está alguém desconhecido, sem experiência ou, pior ainda, alguém cujas referências passadas não sejam positivas, por alguma razão. E, ao contrário, há casos em que basta dizer que em tal empresa está fulano, ou sicrano, cuja competência e seriedade respeitamos, e praticamente não é preciso dizer mais nada pois sabemos que naquela pessoa podemos confiar de olhos fechados, tanto pela competência quanto pela seriedade, não importa em que empresa esteja.

A relação de confiabilidade entre um cliente e uma agência se faz entre pessoas determinadas, não entre marcas ou slogans. Se não fosse assim, quando as agências fecham, são compradas, se subdividem ou quando as pessoas chave de confiança já não estão mais lá, para onde vai a maioria dos clientes senão para onde foi aquele profissional em que confiam, independente da empresa onde esteja no momento?

Até clientes de grande porte, empresas gigante que teoricamente poderiam ser reconhecidas apenas em função de sua marca, sem vinculação com a pessoa de seus donos ou executivos, já estão começando a perceber que, para terem credibilidade, precisam apresentar os seres humanos que estão por trás.

Belo exemplo disto é a campanha da TAM que está no ar, em que os principais personagens, desde o presidente até a aeromoça, mostram a cara e “assinam embaixo” pela qualidade dos seus serviços. Numa das peças eles põe literalmente suas milhares de assinaturas na fuselagem de um avião.

Outro bom exemplo é o da campanha com o Q de qualidade da Globo, com os testemunhos de seus artistas. E excelentes exemplos são também as editoras de revistas e jornais, como o PropMark, que apresentam, às claras, seu expediente completo. E, afinal, quantos casos já não vimos de campanhas em que os presidentes das companhias mostram a cara em comerciais e anúncios?

Ora, se é tão evidente assim que, para uma empresa ganhar a confiança dos consumidores, ela precisa mostrar uma “face humana”, por que será que tantas “sumidades” entre os prestadores de serviços de marketing simplesmente não botam seus nomes, seus currículos (e suas fotos!) nos sites das empresas em que estão? Será que acham que alguém vai contratá-las só pelas belas promessas que fazem em seus sites, embora anônimas?

Sei que, em alguns casos, é porque pretendem simular que suas empresas são maiores do que realmente são… Botar um ou dois nomes ali, imaginam eles, seria revelar que toda a parafernália anunciada é, na verdade, um one-man-show (ou two-man…). E isto deporia contra a imagem “empresarial” que julgam dever apresentar ao mercado. Outra razão, por vezes, é que os nomes (e os CVs) a serem eventualmente expostos não deporiam muito a favor da empresa…

Mas, seja como for, por trás destas e outras possíveis razões para não mostrarem suas cabeças, a razão principal geralmente é a pior que se poderia esperar de um marqueteiro: miopia em marketing!

Em função disso faço uma recomendação bem prática a quem esteja procurando um fornecedor de serviços de marketing. Se o site da empresa não tiver a identificação bem detalhada de quem está por trás, descarte de imediato. Empresa dirigida por mulas sem cabeça só pode fazer burrice com o seu marketing também.